a vida depois da vida. o momento em que os órgãos vitais decidem que não querem mais continuar o seu trabalho e o corpo passa a ser dono de ninguém. o coração pára porque se farta. suicida-se e mata consigo todas as células pelas quais era responsável. aquilo que um dia foi vida, olhares, abraços e sexo, passa a ser a merda que as moscas comem. pode ser que o melhor seja fingir, a mentira sempre foi o meio mais interessante de se contar uma história. se fingirmos de tal modo que acreditamos na mentira que inventámos talvez consigamos viver sem morrer, e a morte passa então a ser uma fase da vida.
«Talvez tivesse medo de estragar a lembrança desses longínquos dias, medo de mover, para melhor expor as coisas, essa fina camada de pó onde repousa, apenas adormecida, a memória dos dias felizes.»
miguel sousa tavares